TEXTO DE LUIZ ERNESTO BRAMBATTI
No Porto do Guimarães, os imigrantes transferiam seus poucos pertences para
carroças, mulas e carretas e seguiam para os lugares onde haviam barracões de
imigrantes, no passo da Boa Esperança, na Picada Feliz, em Nova Milano, Nova
Palmira, em São Luiz da Terceira Légua e
no Campo dos Bugres.
Deixavam as famílias em algum
destes barracões onde havia lugar e seguiam para o seu lote de terras( as vezes
citado como “prazo”) normalmente de 24 ha, que correspondia a uma colônia, ou
12 ha, correspondente a meia colônia. Lá deveriam receberda diretoria da
colônia uma casa de madeira provisória. Estando pronta a casa, voltavam para
buscar a família no barracão. Subiam por uma picada aberta na “montanha da
torre”, chamada também de “morro Cristal” ou “morro Caxias”.
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Carta de Bortolo Gaggio, reclamando do transporte e dos pouco apoio aos imigrantes. Fonte: Arquivo Nacional |
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Fonte: ADAMI, J.S. Historia de Caxias do Sul,1962, p.34 |
O preço do lote
variava de 2 a 8 contos de réis de acordo com o arbitramento e memorial
descritivo do agrimensor. Na colônia Caxiasforam vendidos 3.500 lotes entre 3 a
4 contos de réis (MACHADO, 2001, p. 48) .
Os imigrantes,
tinham muitas vezes de enfrentar as enchentes do Rio Cahy, cujas águasavançavam
sobre a estrada, construída muito próxima da margem, ora impedindo o tráfego de
carretas e mulas, ora pelos atoleiros que ficavam, quando o rio baixava, ou
mesmo quando as enchentes carregavam as pontes construídas, principalmente
sobre o Arroio do Ouro e o Arroio Pinhal.
Eram
freqüentes as reclamações e os pedidos para concertos da estrada em função dos
atoleiros, tanto na Câmara de São Sebastião do Cahy, quanto na Comissão de
Terras e Colonização da Colônia Caxias. O principal trecho de atoleiros ficava
entrea casa de Miguel Ledur e Pedro Wiltgen, próximos de Bom Principio, verificados
através das sucessivas solicitações de recursos para a manutenção da estrada
junto à Câmara de S. S. do Cahy.
O primeiro
traçado da estrada passava muito próxima do rio Cahy, estando sujeita a
seguidas inundações e alagamentos. Segundo MASSON
(1940, p. 31), "estando a estrada Rio Branco mal localizada,
é facilmente atingida pelas enchentes do rio Caí, o que a torna um verdadeiro
sorvedouro de verbas para conservação, o governo do estado prolongou a Júlio de
Castilhos até a sede do município. fazendo-a passar por zona mais apropriada, e
ligando-a à estrada de São Leopoldo."
A
solução encontrada foia construção da estrada Julio de Castilhos, que partia de
São Leopoldo, passava por Portão, São Sebastião do Cahy e encontrava a estrada
Rio Branco no Km 14, já em Feliz. A estrada passava por Vigia, Escadinhas e
Feliz. A Julio de Castilhos seguia por Alto Feliz(Morro das Batatas ou Santo
Inácio), Nova Milano, Nova Vicenza (Farroupilha), Vila Jansen, Nova Roma do
Sul, Alfredo Chaves (Antonio Prado) até Vacaria, dali seguia para Lagoa
Vermelha e terminava em Marcelino Ramos.
Em
vários trechos, a estrada Julio de Castilhos aproveitou o traçado da Estrada
Rio Branco, como de Vigia a Escadinhas, do passo da Esperança até Kautenbach (Arroio
Feliz) e de Capão Alto até Vacaria.
Num relato
da época, compilado por Álvaro Franco, há a descrição do percurso da família de
José Eberle, do Porto dos Guimarães até o Campo dos Bugres :
“
Era aí que se organizavam as tropas de
mulas, as quais trilhando picadas, vencendo escarpas, resvalando em sulcos mal
abertos, por entre despenhadeiros que se comprimiam um junto ao outro, como em
crispações de uma natureza desenfreada, galgavam o platô ridente, em que hoje
está situada a cidade de Caxias, então minúsculo agrupamento de colonos,
denominado Campo dos Bugres. . . . Entre os tropeiros que, nesta época gozavam
de grande fama, sendo considerado um dos melhores vaqueanos da região,
incluía-se um tal Giuseppe Leonardi, vulgo Nonnez. À sua larga experiência e
zêlo José Eberle resolveu confiar a tarefa de transportar sua familia e a
preciosa carga que trouxera da Itália( Abramo Eberle tinha 4 anos, e seu irmão,
Eugênio, 6 anos. José Eberle perdeu uma filha Maria Luiza, de pouco mais de um
ano, sepultada nas matas virgens do vale do Caí, no caminho para o Campo dos
Bugres ). E assim os Eberle foram incluídos numa dessas tropas de cargueiros e,
grimpando por um morro a pique, onde
havia sido loteada a chamada 3a
Légua, lá foram rumo a seu novo destino, representado pela incipiente
colônia Campo dos Bugres. ” (FRANCO,
1943, pp. 40-41)
Outro episódio relatado da relação
entre os imigrantes e os meios de transporte da época foi o que aconteceu com
Bortolo e Vittore Gaggio. Numa reclamação endereçada ao Inspetor Geral de
Terras e Colonização, no Rio de Janeiro, reclama das condições em que se deu o
transporte dele e de sua família, desde a Itália.
Eu abaixo assinado, declaro a todos quantos que no mês
passado eu tive que pagar uma soma de 412,50 liras em ouro
para embarcar no vapor Belgrano.As paradas foram as seguintes: Em Sao
Sebastião do Caí, 2 dias, o transporte de
São Sebastião para Feliz, montados numa carroça com a
esposa e três filhos, e eu segui caminhando ao mesmo
tempo,um filho nasceu ali em 05 de maio
de 1878. Em Feliz ficamos por três dias, o transporte
para Palmira foi montadoa cavalo e a pé.A parada de
Palmira foi de 8 dias, e o transporte de Palmira até
o campo (Campodos Bugres), minha esposa
grávida, você tinha que andar tendo sobre seus ombros
uma criança de 3 anos e, felizmente, teve que permanecer ali em meio a grande
floresta.
Declaro que fui aocampo para receber fornecimento por 10
dias e foi suficiente apenas para 5 dias. Não quero me alongar e junto a esta
estão os recibos de pagamento.
Me declaro seu servo,GaggioBortolo , em 05 de maio de 1878.
FONTE: Fundo DB/Agricultura/dep.311,
caixa 24, Arquivo Nacional
À regia comissão encarregada:
Na viagem de São Sebastião ao Campo dos Bugres, nós
fomos maltratados. Nossa família de 11 pessoas recebeu comida
para 6. Recebemos comida para 10 diase quenão foi suficiente para 5.
De São Sebastião ao Campo dos Bugres, a viagem foi feita em 17dias com as respectivas paradas nos respectivos barracões. Do barracão de Nova Palmira ao Campo, fomos forçados a percorrer a estrada com um pouco de café e pão preto, e assim forçados a viajar por todo o dia até o acampamento. O transporte nas mulas foram para 7 pessoas e os outros 4 foram a pé. Ilustrissimo Excelentissimo, Eu faço o dever de apresentar aqui o recibo do dinheiro que eu paguei na Itália para o embarque, ou seja, a soma de 1.158.75 francos em ouro.
Eume resigno,De vós seu digno servo, GagioVittore, em 13 de junho de 1878.
De São Sebastião ao Campo dos Bugres, a viagem foi feita em 17dias com as respectivas paradas nos respectivos barracões. Do barracão de Nova Palmira ao Campo, fomos forçados a percorrer a estrada com um pouco de café e pão preto, e assim forçados a viajar por todo o dia até o acampamento. O transporte nas mulas foram para 7 pessoas e os outros 4 foram a pé. Ilustrissimo Excelentissimo, Eu faço o dever de apresentar aqui o recibo do dinheiro que eu paguei na Itália para o embarque, ou seja, a soma de 1.158.75 francos em ouro.
Eume resigno,De vós seu digno servo, GagioVittore, em 13 de junho de 1878.
FONTE: Fundo DB/Agricultura/dep.311, caixa 24, Arquivo Nacional
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