Em 1875,
com a chegada dos imigrantes italianos a Porto Alegre, o único caminho de que
dispunham para chegar ao “Campo dos Bugres”, depois denominado de “Colônia
Caxias” em janeiro de 1877, era pela via fluvial, através do Rio Cahy[1],
até o Porto do Guimarães, no recém criado município de São Sebastião do Cahy.
Uma vez chegados ao porto do Guimarães, os colonos italianos lá permaneciam, as
primeiras famílias, até que ficassem prontos os barracões e casas provisórias e
fossem feitas as medições das colônias. Conforme chegavam em Porto Alegre, os
imigrantes eram transferidos também para os barracões existentes em São
Sebastião do Caí, Passo Esperança, na Picada Feliz, em Nova Palmyra e no Campo
dos Bugres.
O rio Cahy
(MASSON,1940,p.28), com “h” e “y” tal
como escrito na época, tem cerca de 30 léguas de comprimento, desaguando no Rio
Jacuí. De Porto Alegre até o Porto dos Guimarães são aproximadamente 13 léguas
ou 132 quilômetros.
Em 1881 (CAÍ, 1881) atuavam no
transporte fluvial entre São Sebastião, Maratá, Montenegro e Porto Alegre, os
seguintes vapores e respectivos comandantes:
Vapor Barão
do Cahy:Sr. Luis Christiano Lauer.
Vapor União:
Sr. João Antonio Collor
Vapor Maratá
: Sr. Carlos Guimarães Schlling
Vapor
Brasileiro: Sr. Felipe Carlos Trein
Outros vapores foram construídos para atender a demanda crescente de
transporte: Rio Branco, Gaúcho, Garibaldi, Lageado, Otto, Horizonte, Caxias e
Salvador. O transporte fluvial
pertencia a duas companhias de navegação de S.
Sebastião do Caí: Navegação Fluvial do Caí e Navegação Sedutora.
“O Horizonte era um barco muito grande e
bonito. Levava carga e 30 passageiros. E ainda rebocava três chatas (barcos sem
motor), cada uma com tamanho equivalente ao do próprio vapor, atulhadas de
carga.
O que movia o vapor era a caldeira: uma grande
“panela de pressão”. A água, fervendo dentro dela, escapava na forma de um
jato, que impulsionava as pás de uma roda. E estas, girando, mergulhavam na
água, trabalhando como remos e impulsionando o barco.
O barco partia do Caí às seis horas da tarde e
chegava em Porto Alegre às seis da manhã. Começava, então, a viagem de volta,
chegando no Caí no final da tarde. (KLEIN, Historias do Vale do Caí, 2009)
Em 1881, o Presidente da Camara
Municipal de São Sebastião do Cahy solicitou uma série de informações aos
comandantes dos vapores, no entanto as respostas não foram localizadas no
arquivo histórico de SSCaí.
Aos comandantes dos vapores desta Villa: Vapor Barão
do Cahy:Sr. Luis Christiano Lauer;Vapor União: Sr. João Antonio Collor;Vapor
Maratá : Sr. Carlos Guimarães Schling;Vapor Brasileiro: Sr. Felipe Carlos Trein
Paço da Camara Municipal na Villa de São Sebastião do
Cahy, 18 de fevereiro de 1881. Ilmo. Sr. Para esta Camara poder prestar
informação ao Governo da Provincia sobre
assumptos que muito interessam ao progresso deste município precida que
V.S. em qualidade de comandante do Vapor
Barão do Cahy se digne de informar-lhe o
seguinte:
1.
Quanto, liquido, pelo mesmo vapor o
cidadão Luiz Manoel Weck, arrematantedos impostos sobre gêneros de
exportação deste município no exercício
de 01 de julho de 1879 a 30 de junho de 1880;
2. Quaes os gêneroscomerciais e
industriais, sua quantidade e arrobas, que o memo vapor exportou deste
município no referido tempo;
3. Qual a força máxima , média e mínima
do mesmo vapor em numero de sacas e arrobas, bem como de suas lanchas ou barcaças que o acompanhão;
4. Quantas viagens o mesmo vapor faz por semana e de que porto parte para
Porto Alegre;
5. Qual o rendimento e despesa annual do mesmo vapor, bem como quanto por
cento tem produzido de dividendo ou lucro aos accionistas devendo V. S.
addicionar outras quaisquer informações
ou esclarecimentos que lhe occorrerem a respeito.
Deos guarde a V. S.
Assinado: Paulino
Ignácio Teixeira – Presidente da Camara
Secretário: João
Francisco D’Aguiar Junior.
(TRANSCRIÇÃO DO LIVRO DE ATAS DA CAMARA MUNICIPAL DE SÃO
SEBASTIÃO DO CAÍ. LIVRO 4, Arquivo histórico de S. S. do Caí. 1881)
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Uma das primeiras fotos da imigração italiana. Autor desconhecido. Atribui-se a travessia do Rio Caí. Cedida pelo Museu e arquivo histórico de São Sebastião do Caí. |
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Vapor Otto ancorado no porto de São Sebastião do Caí: fonte: autor desconhecido, cedidas pelo arquivo histórico de São Sebastião do Caí- 1910. |
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Vapor Lageado ancorado no Porto do Guimarães, em São Sebastião do Caí . Fonte: autor desconhecido, cedidas pelo arquivo histórico de São Sebastião do Caí. |
Para
que os imigrantes chegassem às colônias, tinham que enfrentar vários obstáculos
naturais neste novo corredor migratório. O primeiro deles era o próprio acesso
dos vapores ao porto do Guimarães, pois o rio Cahy, em época de seca, não
oferecia calado para se chegar até o porto, e haviam as corredeiras que, com
pouca vazão, tornavam inviável o tráfego
fluvial. A carga e os passageiros
desciam então no porto Maratá.
A
solução encontrada foi construir uma barragem com eclusa próxima de São
Sebastião, atualmente município de Pareci Novo, iniciada em 1895, pelo
Engenheiro Dr. José da Costa Gama, da Cia. de Melhoramentos do Caí e inaugurada
em 1906, com o nome de Barragem Rio Branco.
Antes de 1906, em períodos de pouca água, os vapores não
deixavam de fazer a linha ligando o Caí à capital. Mas o ponto final da linha
era no porto Maratá, situado próximo à foz do arroio de mesmo nome. Este local
fica no atual município de Pareci Novo. A alguns quilômetros, rio a baixo, da
sede do município. (KLEIN, Historias do vale do Cai, 2010)
[1]
Utilizamos a escrita de rio Cahy , com “h” e “y”, de origem guarani, tal como
era utilizado na documentação da época. Quando refere-se ao município atual,
utilizamos a forma portuguesa da palavra “Caí”.
Também porque existe um outro rio Cahy no Sul da Bahia, município de
Prado, que permanece com a grafia original.
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