segunda-feira, 1 de julho de 2013

A ESTRADA RIO BRANCO E A EMANCIPAÇÃO DA COLONIA CAXIAS

autor: Luiz Ernesto Brambatti

A estrada Rio Branco, como a principal de todas, tinha uma importância fundamental, pois dava acesso ao porto de S. Sebastião do Caí, não só da Colonia Caxias como de outras localidades e colônias, como Vacaria, São Francisco de Paula, Nova Trento, Antonio Prado, cuja produção, quer pecuária, quer agrícola, chegava aos mercados por esta via de comunicação.
Era condição concluir a estrada para a emancipação de Caxias. No entanto a colônia foi emancipada antes mesmo da conclusão das pontes do Arroio do Ouro ( Conselheiro José Julio) e do Pinhal (João Henrique). A estrada só foi entregue à Camara de São Sebastião do Caí em 11 de dezembro de 1884, no entanto as obras ficaram prontas ainda em julho, conforme informa Barata Goes, chefe da Comissão de Terras e medição de lotes de Caxias:

Em resposta ao oficio de n. 797 de 24 de julho próximo findo, e recebido no dia 04 do corrente, que informa sobre os três quesitos apresentados, cumpre-me declarar a V. Excia. Que quanto ao 1º, não há estrada alguma em construção por já estar concluida uma destas que fazem parte da viação externa e é denominada “Conselheiro Dantas”, que liga a sede principal desta Colonia aos Campos de Cima da Serra, estrada que é de rodagem e tem extensão de 27.640 metros, cujos trabalhos foram começados no dia 01 de março deste ano e concluídos a 27 de maio. É ainda necessário, para consolidar o seu leito, que sejam macadamisados alguns pequenos trechos e apello a V. Excia no sentido que se faça este serviço, pois sem ele no tempo das chuvas não é fácil o transito. Quanto ao 2º quesito, informo a V. Excia que deve começar logo que terminar a estação pluviosa os reparos na 1ª secção da estrada Visconde do Rio Branco, serviço este que será feito por pequenos empreitadas em pouco tempo e bem assim a derrubada de matto na 2ª secção, a fim de preparar o aterro para que se torne transitável para cargueiros como obra provisória. Quanto ao terceiro quesito que julgo de summa importância poderei informar quando souber se foi approvado o meu orçamento das despesas necessárias às obras relativas à emancipação das colônias na importância de 35:676$000 para as referidas obras mas não é possível que com tão diminuta verba se façam os trabalhos que julgo bem necessários para que possa este estabelecimento entrar no regimen comum principalmente no que diz respeito aos meios de transportes e comunicação como determina o selado officio  de V. Excia. Três são os assumptosque tenho tratado desde que entrei no exercício do cargo que ocupo e são: viação interna, retificação de lotes e mais do que tudo, a viação externa. Esta se compõe de três estradas. Uma, já concluída, a Conselheiro Dantas, a 2ª que será só para cargueiros, se dirigirá a Vaccaria, e a 3ª que é denominada de “Visconde de Rio Branco”, tem 66 km, dos quais foram construídos somente 22 quilometros nas administrações passadas. Dos 44 quilometros que faltam para sua conclusão, há alguns trechos que são de dificílimo transito para carroções com carga, porque nelas nunca se fez obra alguma. Esta estrada, a principal de todas, porque nela transitam os gêneros de importação e exportação, não desta colônia como de outras localidades e liga a sede colonial com a Villa de São Sebastião do Cahy.
(TRANSCRIÇÃO DE DOCUMENTO do Escritório da Diretoria da Colônia Caxias em 06 de agosto de 1883, endereçado ao Presidente da Provincia Dr José Julio de Albuquerque Barros, assinado pelo Bacharel Manoel Barata Goes, Chefe da Diretoria da Colonia Caxias.DIR 014, N. 36, p.15-16, Arquivo Histórico de Caxias do Sul)

Pelos officios por copia juntos n. 1 e 2 veráV. Excia que foram entregues à administração  da Camara Municipal de São Sebastião do Cahy as estradas Visconde do Rio Branco  e Conselheiro Dantas conforme officio de V. Excia de n. 1097 de 09 de julho deste anno. Entregando as ditas estradas em bom estado de transito, como se vê pelo officio n. 2, compete a referida administração providenciar no sentido de que sejam sempre conservadas visto serem de máxima utilidade para os habitantesdo município da Vaccaria, de São Francisco de Paula, desta ex-colonia, da linha Feliz e outros lugares. Passando as mãos de V. Excia os mencionados officios rogo a V. Excia que sejam publicados.
TRANSCRIÇÃO DE DOCUMENTO do Escritório Chefe em Medições de lotes na ex-colonia Caxias em 11 de dezembro de 1884, endereçado ao Presidente da Provincia Dr José Julio de Albuquerque Barros, assinado pelo Bacharel Manoel Barata Goes, Chefe da Diretoria da Colonia Caxias.  (DIR 014, N. 148,Arquivo Histórico de Caxias do Sul)

Manoel Barata Goes : Fonte: Arquivo Histórico de Caxias do Sul 
O próprio Manoel Barata Goes, Engenheiro Chefe do Escritório da Diretoria da Colônia Caxias, recebeu, em 20 de novembro de 1883, oficio do Presidente da Provincia, aprovando o orçamento para a conclusão da 2ª secção da Estrada Rio Branco, do Arroio Pinhal até São Sebastião do Cahy, como parte dos “trabalhos preparatórios da emancipação da colônia Caxias, fixando a data do termino para o final de fevereiro de 1884”.
Tendo examinado os orçamentos que acompanharam o seu officio de 18 de outubro ultimo, declaro que aprovo o da 2ª secção da estrada de rodagem “ Visconde do Rio Branco”, desde a casa de Theodoro Poppi até a passagem do rio Cahy, na importância de 85:530#000, para servir de base aos contratos  de empreitadas parciais  a que V.Mercê, está procedendo mediante concorrência pública, da qual é de esperar se consiga a realização das obras  por preços inferiores aos orçamentos.
Não preciso encarecer a necessidade da mais rigorosa economia, porque conforme já declarei a V. Merçê por ocasião de visitar essa Colônia, não deve contar com quantia superior a 100:000$000 para concluir os trabalhos preparatórios da emancipação das colônias.
Esses trabalhos que devem estar concluídos até fins de Fevereiro, se limitam à dita 2ª secção da estrada Rio Branco e à retificação dos lotes que V. Mercê calculou poder completar com 14:000$000.
(Relatório de Barata Góes de 20 de nov de 1883 –Correspondência recebida,
DIR 014, Arquivo Histórico de Caxias do Sul,)

            Outro documento de 01 de março de 1879, da Diretoria da Agricultura do Ministerio da Agricultura e Obras Publicas, reforça a construção da estrada de Conde D´Eu para o porto de São João de Montenegro como “indispensável a construção de uma estrada regular, que, além de tudo, vai valer para a emancipação”.
           
... Entende aquelle Eng. que a primeira medida a tomar-se, relativamente àquellas colônias é facilitar-lhes a comunicação para os centros comerciais. Possuindo Conde D´Eu e D. Isabel 8.000 colonos ,, e não tendo estes mais que uma estrada impraticável para levar os productos  ao porto de S. João de Montenegro, é indispensável a construção de uma estrada regular, que, além de tudo, vai valer para a emancipação.
( TRANSCRIÇÃO DE OFICIO DA DIRETORIA DA AGRICULTURA , 3ª SEÇÃO,  ENDEREÇADO AO GOVERNO DA PROVINCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL, EM 01 de março de 1879, sob n. 11- Arquivo Nacional – OP.MIn. Agri)

A colônia Caxias foi emancipada em 12 de abril de 1884, tornando-se 5º distrito de São Sebastião do Cahy, quando faltava pouco para a conclusão das pontes do Arroio do Ouro e do Arroio Pinhal da Estrada Rio Branco e passou a chamar-se de Freguesia de Santa Tereza de Caxias. Em 20 de junho de 1890, torna-se Villa, cidade, conquistando a autonomia política.

Colônia a Fundos de Nova Palmira: 1872 até 1875
Campo dos Bugres: 1875 a jan 1877,
Colônia Caxias: de jan 1877 até 12/4/1884.
Colonia Santa Teresa de Caxias (quando foi emancipadapertencia  à Villa de São Sebastião do Cai: de12/4/1884  até 6/12/1890.

Vila de Santa Tereza de Caxias (administrada por um conselho municipal eleito,
que exercia as funções de legislativo e executivo): de 6/12/1890 até 1/6/1910.
Caxias do Sul ( elevada à categoria de cidade): 1/6/1910 até os dias de hoje.

O PEDAGIO NA ESTRADA RIO BRANCO

A receita da Câmara de S. Sebastião do Cahy provinha da cobrança de impostos e de pedágio nos passos de travessia de rios. Em 1878 e 1879, já havia cobrança de pedagio nos seguintes passos: (CAÍ, 1881, p. 02)

1.       No rio Cahy, fronteira a esta Villa
2.       Passo Esperança, no rio Cahy
3.       Passo Selbach,no rio Cahy
4.       Monte Negro, no rio Cahy
5.       Rio Cadeia, na estrada geral
6.       Passo do Jacob Spindler, no arroio Cadeia
7.       Passo do Silveira
8.       Passo do Arroio Forromeco, nos Trinta Palmos

No Rio Cahy, na direção das colônias de Nova Milão, Nova Palmira, Linha Christina e Fundos de Nova Palmira tinha dois passos possíveis: o passo de Escadinhas e o passo da Boa Esperança. O passo preferido dos carreteiros e das tropas era o da Boa Esperança, embora houvesse pedágio neste local, mas logo que começou a cobrança do pedágio, um “desvio” foi encontrado rio acima, onde era feita a travessia, principalmente do gado. Quando o rio estava baixo, a travessia era feita no próprio rio, pois a pouca vazão e os pedregulhos permitiam a passagem de mulas, carretas e até de pessoas a pé. Quando o rio subia, a travessia era feita numa balsa. O proprietário da balsa podia cobrar o pedágio e repassava para a Camara[1] de S. S. do Cahy o valor proposto em arrematação publica.
            A arrecadação do pedágio era feita por um arrematante, na forma de cessionário de licitação para um período de três anos, que cobrava a passagem pelo passo. O valor repassado para S.S. do Cahy era fixo, sendo que a melhor proposta de repasse vencia a concorrência pública.  O recurso obtido nos diversos passos era para ser utilizado na conservação das estradas. Por se tratar de uma prestação de serviço muito rentável, muitos conflitos e discussões foram geradas, inclusive com recursos ao Presidente da Provincia, como aconteceu em 1880:
...forão lidos os requerimentos de Jacob Ruschel e Manoel Gomes de Aguiar reclamando para serem preferidas as suas propostas para cobrança de pedágio do Passo Esperança e do Cahy. A Camara resolveu consultar com os mesmos requerimentos ao Exmo. Sr. Presidente da Provincia. (TRANSCRIÇÃO DE ATA DA CAMARA MUNICIPAL DE SÃO SEBASTIÃO DO CAÍ. LIVRO 1, de 1875 a 1884,. Sessão Ordinária em 09 de julho de 1880, sob presidência de Justino Antonio da Silva. Arquivo histórico de S. S. do Caí)
...Officios da Presidencia da Provincia do corrente anno.
N. 1117, 3ª Secção. De 20 de julho, dando solução as reclamações improcedentes de Jacob Ruschel e Manoel Gomes de Aguiar reclamando a arrematação feita a Amancio Gonçalves da Rosa para a cobrança de edágio dos Passos daEsperança e Rio Cahy.
N. 1181, 3ª Secção de 29 de julho, aprovando o contracto celebrado com Luiz Manoel Weck para arrecadação das rendas desta Camara no exercício, com João Carlos de Mirandae Amancio Gonçalves da Rosa para cobrança do pedágiodo rio Cadeia e Passo da Esperança no rio Cahy.
(TRANSCRIÇÃO DE ATA DA CAMARA MUNICIPAL DE SÃO SEBASTIÃO DO CAÍ. LIVRO 1, de 1875 a 1884, Arquivo histórico de S. S. do Caí. Sessão Ordinária em 05 de outubro de 1880,  sob presidência de Justino Antonio da Silva)

            No período de 1883 a 1886, foi vencedor da licitação para cobrança do pedágio no passo da Esperança, no Rio Cahy, estrada Rio Branco, Francisco Dihel, por disponibilizar uma barca que possibilitava a passagem de uma tropa ou carreta de uma só vez.
E assim recebidas e abertas foram pela Camara as propostas dos seguintes proponentes que lançaram nos pedágios dos ditos rios: ...Passo da Esperança a Ernesto Pires Cerveiro, 1:502$500; Antonio Ferreira Bastos Sobrinho, 2:325$980; Carlos Noll, 2:150$000, João Bruhn, 2:150$000, //Francisco /Diehl,2:350$000; Amancio Gomes da Rosa, 1:733$000, João Antonio Dutra Filho 2:361$000.
(vencedor)...Do Passo da Esperança a Francisco Dihel por reis 2:350$000 dando uma barca com tal força e comodidade que dá passagem a uma tropa ou carreta de uma só vez e dando como fiadores os cidadãos Jacob Ruschel e João Bade.
(TRANSCRIÇÃO DE ATA DA CAMARA MUNICIPAL DE SÃO SEBASTIÃO DO CAÍ. LIVRO 1, de 1875 a 1884, Sessão Ordinária em 18 de maio de 1883, fls. 132, sob presidência do Sr. Tenente Coronel Paulino Ignácio Teixeira  Arquivo histórico de S. S. do Caí)


Mesmo depois de construída a ponte de ferro no passo da Esperança, cobrou-se pedágio na travessia da ponte da[2] Feliz até o ano de 1925. As carretas grandes pagavam 2 mil réis, as carretas pequenas pagavam 1 mil réis, passageiros a cavalo 400 réis, os pedestres 200 réis[3]. O passo foi abandonado e a ponte passou a chamar-se “ponte da Feliz”.
Em dezembro de 1888 a Picada Feliz passou a denominar-se de “Vila Feliz”. Dado o grande movimento de carretas, tropas e pessoas, a Vila Feliz cresceu e o passo já não dava conta da travessia, crescendo também o movimento pela construção da ponte. Em 1898, os acionistas da balsa propuseram então construir eles mesmos a ponte com a condição de explorar o pedágio pelo tempo de 30 anos, contra o que se manifestou o Presidente do Estado, Antonio Augusto Borges de Medeiros, que cobrou ao então Intendente de São Sebastião, Orestes José Lucas, o uso do dinheiro arrecadado no pedágio do passo na conservação da Estrada Rio Branco, obrigando o Estado a fazer a conservação da estrada, no seguinte teor:
Ao Sr Intendente Municipal de São Sebastião do Cahy;
Em resposta ao vosso oficio de 2 do mês findo declaro-vos a resolução do Governo do Estado chamando concorrentes para a construção de uma ponte no rio Cahy, com privilegio por 30 anos, não pode ser mantida porque consulta as conveniências do publico.
As razões que pedis naquelle officio não são attendiveis. O passo do Cahy, que dizeis achar-se arrematado por três annos e no qual, segundo informais, o Conselho jáautorizou a construção de uma ponte por conta do município ou por concessão, está situado numa estrada intermunicipal ( Rio Branco), e portanto não cabe ao Conselho resolver sobre a construção ou concessão, que é da exclusiva competencia do Estado.
Quanto à conservação da Estrada Rio Branco, é sabido que , gozando desde longo tempo essa Municipalidade de impostos de passagem no referido passo, deixou sempre em completo abandono  aquela estrada, pelo que foi o Estado obrigado a fazer avultada despesa para torná-la  transitável, dentro desse município, quando o de Caxias tem tido a seu cargo a conservação do trecho que lhe pertence.
Essa Intendencia tomou o serviço de conservação ultimamente, quando reclamava a execução de reparos na estrada, os quais foram feitos pelo Estado, constituindo obra nova e importando em mais de 100 contos de réis.
Para accorrer a despesa de conservação foram creados impostos sobre carretas e tropas, conforme officio vosso, sem data, que recebi em março ultimo.
Ainda assim concorre o Estado com o auxilio de 5:556$000 réis, por ser infufficiente o producto dos vossos impostos, não tendo portanto, applicação à despesa de conservação da estrada Rio Branco a renda da passagem do Rio Cahy.
Saúde e Fraternidade
A.A.Borges de Medeiros – Presidente da Provincia
(TRANSCRIÇÃO DE OFICIO DO PALACIO DO GOVERNO EM PORTO ALEGRE AO PREFEITO MUNICIPAL DE SÃO SEBASTIÃO DO CAHY, em 02 de setembro de 1898 -Arquivo Historico de São Sebastião do Cahy)

A ponte do passo da Feliz, teve um orçamento de 148:726$042 réis e em 28 de fevereiro de 1900 foi aprovado o da ponte do rio das Antas, orçada em 346:361$935 réis.
Os referidos concessionários participaram em 06 de marçoultimo achar-se terminada a construção da ponte do passo Feliz no rio Cahy, na estrada Rio Branco.
No dia 11 de março foi examinada a ponte pelo Director da Viação e recebida definitivamente, sendo logo entregue ao transito.
(TRANSCRIÇÃO DE RELATORIO DA DIRETORIA DE VIAÇÃO AO SECRETÁRIO DE OBRAS PÚBLICAS DO RIO GRANDE DO SUL- 1900, p. 29 (Arquivo Histórico Do Rio Grande do Sul)
Ponte da Feliz. autor desconhecido. Fonte: Prefeitura Municipal da Feliz

Um dado cultural importante sobre a construção da ponte é que em Feliz nasceu Fioravante Bertussi, pai dos irmãos Adelar e Honeide Bertussi, que migraram para Criúva, onde formariam um dos mais expressivos conjuntos de musica serrana, Os Irmãos Bertussi. Fioravante teria trabalhado na construção da ponte de ferro por ser habilidoso metalurgista, atuando na colocação dos rebites[4]. Como a ponte do Korff foi construída logo depois (1904) pelos mesmos empreiteiros e tem as mesmas características de ponte de ferro rebitada, é possível que Fioravante Bertussi tenha sido levado para trabalhar na rebitagem e tendo gostado do lugar, acabou fixando-se em Criúva.
 A ponte da Feliz foi construída por Agnello Correa da Silva e João Correa Ferreira da Silva e recebida no dia 11 de março de 1900 pelo diretor de Viação e dada ao transito por concessão sem ônus para o Estado nos termos do Decreto n. 185, de 20 de novembro de 1898. O contrato de concessão foi assinadoem 10 de dezembro de 1898. O projeto da Ponte do Cahy no passo da Feliz, na Estrada Rio Branco foi aprovado pelo Estado em 14 de março de 1900[5].


[1] A Camara tinha funções também de executivo durante o Império. Somente com a República, após 1889, passou-se a constituir a “ Intendência”, com função executiva e administrativa.
[2] Tornou-se usual o termo “da” Feliz e não “de Feliz” em função do nome anterior ser Picada Feliz, ou seja, da Picada Feliz. Quando a Picada tornou-se Villa, o termo continuou sendo usado com referência a Villa Feliz. Atualmente, ainda utiliza-se o pronome no feminino, “da Feliz”. 
[3] Blog Historias do Vale do Caí , Renato Klein, postagem n. 1073 de 08 de janeiro de 2011. <Historiasvalecaí.blogspot> acesso em 17/05/2013.
[4]Blog historias do Vale do Caí, postagem 1489 de 27 de setembro de 2012, Bruno Assmann de Azevedo com colaboração de Maria Romana Winter Selbach. <historiasvalecaí.blogspot> acesso em 17 de maio de 2013.
[5] Relatorio de Obras Publicas do Estado do Rio Grande do Sul, 1900, p.110. Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.
Passo da Esperança, Rio Cahy, em Feliz. Fonte: Museu e Prefeitura de Feliz. 

O NOME ESTRADA VISCONDE DO RIO BRANCO


TEXTO DE LUIZ ERNESTO BRAMBATTI
O nome de estrada Visconde do Rio Branco dado à estrada que saía de São Sebastião do Cahy e seguia para Caxias provavelmente foi dado em janeiro de 1877, conforme registros encontrados, que referiam a estrada que ligava Caxias ao porto do Guimarães como “Rio Branco”.
Alguns indicadores permitem apontar que tenha sido José Copertino Coelho Cintra, engenheiro e Inspetor Geral de Terras e Colonização do Ministério dos Negócios da Agricultura, Commércio e Obras Publicas, o mesmo que deu nome de Colônia Caxias ao Campo dos Bugres.
 Em janeiro de 1877, Copertino Coelho Cintra veio do Rio de Janeiro até o Campo dos Bugres para resolver um motim de imigrantes. Cerca de 1.600 colonos tiroleses, lombardos e trentinos foram recrutados para serem assentados no Rio Grande do Sul e Santa Catarina e acabaram deslocados para as colônias de Santa Tereza e Timbuí, no Espírito Santo. Os colonos amotinaram-se, forçando a inspetoria a tomar providências e reassentá-los no Rio Grande do Sul.
Coelho Cintra acompanhou estes colonos do Espirito Santo até o Rio Grande do Sul em dois navios de Guerra, o “Madeira” e o “Purus” com mais de cem praças. Chegando ao “Campo dos Bugres”, como era amigo pessoal do Duque de Caxias, então chefe do Gabinete do Conselho de Ministros, deu o nome de Colônia Caxias ao Campo dos Bugres(DALL'ALBA, 1997, p. 29 apud Carvalho Daemon: Provincia do Espírito Santo, p. 440) .
Diversos são os indícios de que o Engenheiro José Copertino Coelho Cintra tenha sido o responsável por dar o nome também à estrada de “Visconde do Rio Branco”, embora não conste de documentos oficiais localizados. Ele era engenheiro, Inspetor Geral de Terras e Colonização, cargo que ocupava no Ministerio dos Negocios de Agricultura, Commercio e Obras Públicas, no Rio de Janeiro, onde foi Ministro o Conselheiro Dantas, e o Visconde do Rio Branco era figura proeminente do poder imperial, como grão mestre da maçonaria e chefe do gabinete de ministros até 1875,ou seja, dois anos antes.
Copertino Coelho Cintra fazia parte do poder central do Império e coordenava os processos de colonização no Brasil inteiro, portanto era a maior autoridade no setor de colonização. Ao dar nome à Colônia Caxias, tinha autoridade legal para nomear também a estrada Visconde do Rio Branco e a Estrada Conselheiro Dantas, o que aconteceu simultaneamente. Esteve na Colônia Caxias em Janeiro de 1877, e percorreu a mesma estrada que os imigrantes.
A partir de 1877 começaram a aparecer nos ofícios e relatórios o nome de Rio Branco referindo-se a estrada que ligava Caxias ao Porto do Guimarães, embora não tenha sido localizado um documento que pudesse comprovar tal feito. Muitos documentos da Comissão de Terras foram perdidos em um incêndio ocorrido na sede da Colônia, onde poderia estar o registro de tal nomeação.
O Visconde do Rio Branco ocupou o mesmo cargo do Duque de Caxias, como chefe do Gabinete do Conselho de Ministros até 1875, e apoiou o programa de colonização e imigração no Brasil. Nada mais justo que homenageá-lo com o nome da estrada. Como Caxias foi homenageado com o nome da Colônia, o Conselheiro Dantas com a estrada que seguia para São Francisco de Paula e o Visconde do Rio Branco com a estrada que dava acesso ao porto do Guimarães.

A estrada Rio Branco era citada nos relatórios como parte daquilo que os agrimensores e engenheiros denominavam de “Viação Externa”, uma obra de viação que ligava a Colônia com o mundo externo, portos, capitais, cidades maiores. Já as estradas vicinais, linhas, travessões eram denominados de “Viação Interna”. 

A ESTRADA RIO BRANCO E OS IMIGRANTES

TEXTO DE LUIZ ERNESTO BRAMBATTI

No Porto do Guimarães, os imigrantes transferiam seus poucos pertences para carroças, mulas e carretas e seguiam para os lugares onde haviam barracões de imigrantes, no passo da Boa Esperança, na Picada Feliz, em Nova Milano, Nova Palmira, em São Luiz da Terceira Légua  e no Campo dos Bugres.
 Deixavam as famílias em algum destes barracões onde havia lugar e seguiam para o seu lote de terras( as vezes citado como “prazo”) normalmente de 24 ha, que correspondia a uma colônia, ou 12 ha, correspondente a meia colônia. Lá deveriam receberda diretoria da colônia uma casa de madeira provisória. Estando pronta a casa, voltavam para buscar a família no barracão. Subiam por uma picada aberta na “montanha da torre”, chamada também de “morro Cristal” ou “morro Caxias”.

Carta de Bortolo Gaggio, reclamando do transporte  e dos pouco apoio aos imigrantes. Fonte: Arquivo Nacional

Fonte: ADAMI, J.S. Historia de Caxias do Sul,1962, p.34 


O preço do lote variava de 2 a 8 contos de réis de acordo com o arbitramento e memorial descritivo do agrimensor. Na colônia Caxiasforam vendidos 3.500 lotes entre 3 a 4 contos de réis (MACHADO, 2001, p. 48).
Os imigrantes, tinham muitas vezes de enfrentar as enchentes do Rio Cahy, cujas águasavançavam sobre a estrada, construída muito próxima da margem, ora impedindo o tráfego de carretas e mulas, ora pelos atoleiros que ficavam, quando o rio baixava, ou mesmo quando as enchentes carregavam as pontes construídas, principalmente sobre o Arroio do Ouro e o Arroio Pinhal.
Eram freqüentes as reclamações e os pedidos para concertos da estrada em função dos atoleiros, tanto na Câmara de São Sebastião do Cahy, quanto na Comissão de Terras e Colonização da Colônia Caxias. O principal trecho de atoleiros ficava entrea casa de Miguel Ledur e Pedro Wiltgen, próximos de Bom Principio, verificados através das sucessivas solicitações de recursos para a manutenção da estrada junto à Câmara de S. S. do Cahy.
O primeiro traçado da estrada passava muito próxima do rio Cahy, estando sujeita a seguidas inundações e alagamentos. Segundo MASSON (1940, p. 31), "estando a estrada Rio Branco mal localizada, é facilmente atingida pelas enchentes do rio Caí, o que a torna um verdadeiro sorvedouro de verbas para conservação, o governo do estado prolongou a Júlio de Castilhos até a sede do município. fazendo-a passar por zona mais apropriada, e ligando-a à estrada de São Leopoldo."
A solução encontrada foia construção da estrada Julio de Castilhos, que partia de São Leopoldo, passava por Portão, São Sebastião do Cahy e encontrava a estrada Rio Branco no Km 14, já em Feliz. A estrada passava por Vigia, Escadinhas e Feliz. A Julio de Castilhos seguia por Alto Feliz(Morro das Batatas ou Santo Inácio), Nova Milano, Nova Vicenza (Farroupilha), Vila Jansen, Nova Roma do Sul, Alfredo Chaves (Antonio Prado) até Vacaria, dali seguia para Lagoa Vermelha e terminava em Marcelino Ramos.
Em vários trechos, a estrada Julio de Castilhos aproveitou o traçado da Estrada Rio Branco, como de Vigia a Escadinhas, do passo da Esperança até Kautenbach (Arroio Feliz) e de Capão Alto até Vacaria.

Num relato da época, compilado por Álvaro Franco, há a descrição do percurso da família de José Eberle, do Porto dos Guimarães até o Campo dos Bugres :

Era aí que se organizavam as tropas de mulas, as quais trilhando picadas, vencendo escarpas, resvalando em sulcos mal abertos, por entre despenhadeiros que se comprimiam um junto ao outro, como em crispações de uma natureza desenfreada, galgavam o platô ridente, em que hoje está situada a cidade de Caxias, então minúsculo agrupamento de colonos, denominado Campo dos Bugres. . . . Entre os tropeiros que, nesta época gozavam de grande fama, sendo considerado um dos melhores vaqueanos da região, incluía-se um tal Giuseppe Leonardi, vulgo Nonnez. À sua larga experiência e zêlo José Eberle resolveu confiar a tarefa de transportar sua familia e a preciosa carga que trouxera da Itália( Abramo Eberle tinha 4 anos, e seu irmão, Eugênio, 6 anos. José Eberle perdeu uma filha Maria Luiza, de pouco mais de um ano, sepultada nas matas virgens do vale do Caí, no caminho para o Campo dos Bugres ). E assim os Eberle foram incluídos numa dessas tropas de cargueiros e, grimpando por um morro a pique, onde havia sido loteada a chamada 3a Légua, lá foram rumo a seu novo destino, representado pela incipiente colônia Campo dos Bugres. ” (FRANCO, 1943, pp. 40-41)

          Outro episódio relatado da relação entre os imigrantes e os meios de transporte da época foi o que aconteceu com Bortolo e Vittore Gaggio. Numa reclamação endereçada ao Inspetor Geral de Terras e Colonização, no Rio de Janeiro, reclama das condições em que se deu o transporte dele e de sua família, desde a Itália.

Eu abaixo assinado, declaro a todos quantos que no mês passado eu tive que pagar uma soma de 412,50 liras em ouro para embarcar no vapor Belgrano.As paradas foram as seguintes: Em Sao Sebastião do Caí, 2 dias, o transporte de São Sebastião para Feliz, montados numa carroça com a esposa e três filhos, e eu segui caminhando ao mesmo tempo,um filho nasceu ali em  05 de maio de 1878. Em Feliz ficamos por três dias, o transporte para Palmira foi montadoa cavalo e a pé.A parada de Palmira foi de 8 dias, e o transporte de Palmira até o campo (Campodos Bugres), minha esposa grávida, você tinha que andar tendo sobre seus ombros uma criança de 3 anos e, felizmente, teve que permanecer ali em meio a grande floresta.
Declaro que fui aocampo para receber fornecimento por 10 dias e foi suficiente apenas para 5 dias. Não quero me alongar e junto a esta estão os recibos de pagamento.
Me declaro seu servo,GaggioBortolo , em 05 de maio de 1878.
FONTE: Fundo DB/Agricultura/dep.311, caixa 24, Arquivo Nacional
À regia comissão encarregada:
Na viagem de São Sebastião ao Campo dos Bugres, nós fomos maltratados. Nossa família de 11 pessoas recebeu comida para 6. Recebemos comida para 10 diase quenão foi suficiente para 5.
De São Sebastião ao Campo dos Bugres, a viagem foi feita em 17dias com as respectivas paradas nos respectivos barracões. Do barracão de Nova Palmira ao Campo, fomos forçados a percorrer a estrada com um pouco de café e pão preto, e assim forçados a viajar por todo o dia até o acampamento. O transporte nas mulas foram para 7 pessoas e os outros 4 foram a pé.  Ilustrissimo Excelentissimo, Eu faço o dever de apresentar aqui o recibo do dinheiro que eu paguei na Itália para o embarque, ou seja, a soma de 1.158.75 francos em ouro.
Eume resigno,De vós seu digno servo, GagioVittore, em 13  de junho de 1878.

             FONTE: Fundo DB/Agricultura/dep.311, caixa 24, Arquivo Nacional

A ESTRADA RIO BRANCO III

fornece-los de viveres até segunda ordem. Deos guarde a V. S. João Weisheimer.
Fonte: TRANSCRIÇÃO DO LIVRO DE REGISTRO DE OFICIOS E REQUERIMENTOS DA COLONIA CAXIAS, 190 fls. , de 1876 a 1880   em 23 de fevereiro de 1876 -  Arquivo Historico do Rio Grande do Sul.

Com o barracão da 3ª Légua pronto em 16 de março de 1876, o Major José Mario Palmeira solicita ao Presidente da Provincia a ordem para examinar o barracão e as casas construídas para os colonos e autorizar a ida dos imigrantes para o local. No mesmo oficio solicita a abertura da estrada, informando ser “quase impraticável a subida e o pique que vai ao referido barracão”.

Os colonos que se achão em Nova Palmyra esperão ansiosos a ordem para subirem para a 3ª e 4ª légua mas para isto se faz mister que o Governo na Provincia mande examinar o barracão como dispõe a terceira parte do respectivo contracto e bem assim a abertura da estrada conforme solicitei em oficio de n. 7 de 26 de fevereiro findo, pois as últimas chuvas tem ainda piorado a subida   que é quase impraticável e o pique que vai ao referido barracão, sendo também muito necessário e urgente abrir picadas para os prazos, não só da dita 3ª légua, mas também da 4ª, como também a construção das casas provisórias, em cuja edificação julgo conveniente serem empregados os próprios colonos, não por arrematação, por ser impossível o director assistir a este serviço em conseqüência das grandes distâncias que tem que percorrer e muitos outros serviços a atender. Relevo a V. S. mandar examinar minuciosamente as casas provisórias edificadas na 3ª légua pelo meu antecessor Capitão Pedro Ferreira Coelho, em cujo serviço julgo que podem ser aproveitados os engenheiros que se acham concluindo a medição dos prazos da 4ª Légua. Deos Guarde a V. M.
Major José Mario F. Palmeira. Delegado Especial de Terras Publicas e Colonização
Fonte: TRANSCRIÇÃO DO LIVRO DE REGISTRO DE OFICIOS E REQUERIMENTOS DA COLONIA CAXIAS, 190 fls. , de 1876 a 1880 , registro de n. 26, de 16 de março de 1876 – Arquivo Historico do Rio Grande do Sul.

            O numero de imigrantes chegados da Europa aumentou muito, como também o movimento no porto do Guimarães, exigindo obras denominadas de “composturas” na época, principalmente na “rua da praia” em São Sebastião do Cahy, que dava acesso ao porto do Guimarães, conforme se observa nesta ata da Camara Municipal de São Sebastião do Cahy, de 7 de maio de 1877.
Em aditamento o que acima fica dito, foi apresentado um requerimento de Guilherme Herbes pedindo pagamento da quantia de 50$000 por quanto contratou um aterro na estrada da rua da praia desta Villa, com a câmara transata o presidente nomeou os vereadores Schmidt e Centeno para examinarem e achado conforme ordenou o pagamento. Eu, Antonio M. da Silva, secretario o escrevi. Assinam os vereadores: João Weissheimer, João Jacob Schimidt, Antonio José da Rocha Jr., Cesar José Centeno e Agostinho de Souza Loureiro.


Em 1877, sob a então direção da colônia do engenheiro Guilherme Greenhalgh, juntamente com o Engenheiro Antonio Pinto da Silva Valle, Adami cita que foi ”derrubada a construção de 3 quilômetros da Estrada Rio Branco, entre o prazo[1] n. 32 da 3a Légua e o lugar denominado Nova Palmira” (ADAMI, Historia de Caxias do Sul, de 1864 a 1970, TOMO I, 1970, p. 156). Fonte: O Rio Grande do Sul, p.58, Arquivo Histórico e Geográfico do Estado do Rio Grande do Sul.
No relatório anual do Presidente da Provincia do Rio Grande do Sul fazia à Assembléia, denominado de “ Falla”, no ano de 1877, ao se referir às obras e viação, cita a “estrada que vai do fundo da Picada Feliz aos Campos de Cima da Serra, passando pelo passo do meio no rio da Antas”. O passo do meio foi o primeiro nome do passo do Korff.
                              
Obras de Viação: Estrada que vai do fundo da Picada Feliz aos Campos de Cima da Serra.
Acha-se designado para inspecionar esta estrada o conductor João Propicio Rodrigues da Silva, o qual seguirá brevemente para encarregar-se também do estudo de uma outra estrada que, partindo da ponte sobre o rio Feitoria, segue com direção ao Cadea, passando pelos prasos coloniais da Linha Café, de uma ponte no dito Rio Cadêa, de outra no passo da Esperança, no rio Cahy, e finalmente de uma estrada na serra das Antas, no lugar designado Passo do Meio.
TRANSCRIÇÃO DA FALLA DO PRESIDENTE DA PROVINCIA, JOSÉ DE AZEVEDO CASTRO, EM 1876 – 1877, p. 45, Arquivo Histórico Do Rio Grande do Sul

De 7 de novembro de 1877 até 9 de setembro de 1878, o engenheiro Higynio José dos Santos , na relação dos trabalhos efetuados, relata a “ exploração de uma pequena extensão da estrada Rio Branco e abertura do respectivo picadão[2]. Já o engenheiro João Carlos Muniz Bittencourt, que serviu de 26 de novembro de 1880 até 4 de outubro de 1881, dentre os trabalhos efetuados, ficou consignado a”derrubada de 12 ditos na que é denominada Rio Branco[3].



[1] “Prazo” era o nome usado na época para designar os lotes de terra, denominados também de “colônias”. 
[2]ADAMI, Historia de Caxias do Sul, de 1864 a 1970, TOMO I, 1970, pag. 156
[3] Idem, pag. 157 

A ESTRADA RIO BRANCO I

 (texto de Luiz Ernesto Brambatti)
Desde a colonização alemã do vale do Caí já havia o acesso para das Villas de São José do Hortêncio à Picada Feliz (Linha Feliz), de Nova Petrópolis para Nova Palmyra e de Linha Christina para Feliz (1867), uma vez que a colonização alemã ali se instala entre 1846 e 1850.  Em 1854, os colonos alemães já utilizavam o passo da Esperança, na Picada Feliz, para chegar até o porto de Dona Theodora[1], no Rio Cahy para levar sua produção:
Tive a honra no dia 12 do corrente de receber o officio de V.Excia. datado de 12 do mesmo , no qual ordena o quanto antes me  apresentar à Contadoria Provincial  a fim de prestar contas  da quantia de três contos de reis que recebi dos Cofres Provinciais em diferentes prestações, sendo a última  em março do ano passado para reabertura da estrada que conduz do passo da Esperança ao porto de D. Theodora, no rio Cahy.
Exmo. Sr. Meus desejos são de muito as ter prestado se não fosse os tropeços que tenho encontrado na falta de trabalhadores.
ASSINA: Antonio José da Silva Junior – Administrador dos trabalhos da Estrada
(Fonte: Maço 09, caixa 05, Obras Publicas, Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul)
 
Traçado da Estrada Rio Branco em 1915 - Mapa do Exercito. Fonte: Arquivo Nacional



 

A primeira referência encontrada de construção de parte do que seria mais tarde a estrada Visconde do Rio Branco foi em oficio de 11 de maio de 1854, onde José Antonio da Silva, administrador dos trabalhos de estradas, informa ao Presidente da Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul, Dr. José Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, que viria a ser o Ministro da Agricultura e Obras Publicas do Imperio, no Rio de Janeiro, no período da colonização italiana,as contas com a abertura da estrada que vai do Passo da Esperança ao porto de Bernardo Matheus, no rio Cahy.
Levo as mãos de V. Excia. a conta e documentos com que provo as despesas feitas com a abertura da estrada que do Passo da Boa Esperança na Picada da Feliz segue ao porto de Bernardo Matheus, no rio Cahy acima, com as estivas feitas na sua estrada. A ponte e outros melhoramentos estão em andamento e conto brevemente dar a V;Excia a última conta. Deos guarde a V. Excia. em 11 de maio de 1854: ASSINA: Antonio José  da Silva Junior – Administrador dos trabalhos da Estrada
Fonte: Maço 09, caixa 05, Obras Publicas, Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.

A primeira picada que se tem noticia que subiu em direção à futura Colonia situada a fundos de Nova Palmyra foi aberta, segundo Adami, por Antonio Machado de Souza, em 1864, o qual firmou residência no local onde está localizado o centro da cidade de Caxias. Em 1871, l.uiz Antônio Feijó Junior, “recolheu amostras de terra e fibras naturais, para serem examinadas nos laboratórios da Corte e verem do que eram capazes de produzir” (ADAMI, Historia de Caxias do Sul, de 1864 a 1970, TOMO I, 1970, p. 79), medida necessária antes de iniciar a colonização. Dizem os antigos que Feijó também expulsou alguns índios na região, que nessa época já eram poucos. ( SANOCKI, 2002,p.62)

Luiz Antonio Feijó Junior era estancieiro da Fazenda “Estaleiro”, município de Triunfo. Após trabalhos realizados , solicitou a governo três Léguas quadradas nas localidades de Conceição e São Marcos, onde loteou e vendeu para os imigrantes. Estes o chamavam de “Conde Feijó”. Adquiriu do Governo os lotes n. 18 e 19 do Travessão Santa Tereza da 5ª Légua, em 1885.Adami se refere a Feijó como “O Visionário”, por ter sido ele, segundo o autor, quem levou ao governo da Provincia a idéia de mudar a sede da Colônia, inicialmente em Nova Milano, para o “Campo dos Bugres”, atual centro de Caxias. Seu nome consta do Monumento Nacional ao Imigrante. ( SANOCKI, M. 2002, p.62, apud GARDELIN, 1992, p.90)

Spadari Adami, um dos historiadores de Caxias do Sul, cita que ”assim era esta região ainda em 1875, quando os imigrantes, que também podem ser considerados como primeiros povoadores, começaram a chegar à base do Morro Cristal, então conhecido como Morro da Torre, em Nova Palmira, e chegaram à primeira, Segunda e Terceira Légua, já medidos pelos agrimensores, e conhecidos após pelo nome de Núcleo Colonial aos Fundos de Nova Palmira. ” (ADAMI, Caxias do Sul, 1957)
As medições de terras na nova colônia começaram em 1874, portanto, para chegarem ao Campo dos Bugres, os agrimensores já usavam a picada aberta na montanha, pelo Morro Cristal da Terceira Légua, pois já havia acesso de São Sebastião do Caí até Nova Palmira, e ir de Nova Palmira ao Campo dos Bugres era mais perto do que ir de Nova Milano.
Embora a Colônia Caxias pertencesse ao município de São Sebastião do Caí, a construção das estradas de acesso (viação externa) e estradas vicinais(viação interna) das Colônias ficava a cargo da Diretoria da Comissão de Terras e Colonização da Colônia, vinculada à Inspetoria Especial de Terras, sediada em Porto Alegre, que por sua vez, estava vinculada à Inspetoria Geral de Terras e Colonização do Império, no Rio de Janeiro, pertencente ao Ministerio dos Negocios de Agricultura e Obras Publicas . Esta estrutura de organização das Colônias perdurou até 1906.
O engenheiro Chefe da Comissão era a autoridade máxima da colônia, “ a quem cabia coordenar os trabalhos de demarcação, dirigir todos os negócios e serviços da Colônia que iam desde a expedição dos títulos provisórios e definitivos de propriedade à arrecadação da renda da Colônia, passando pelo emprego dos imigrantes nos trabalhos de construção de estradas” (MACHADO, 2001, p. 42).            
Quando da formação da Republica, em 1889, a construção e conservação de estradas estaduais passou para a Diretoria de Viação da Secretaria de Obras Publicas do Estado do Rio Grande do Sul.




[1][1][1] Dona Theodora é a referencia de Dona Teodora Antônio de Oliveira, que em 1836 comprou de Bernardo Mateus metade de sua sesmaria, que era de 272 ha, ou seja, comprou 136 ha. No lugar onde é hoje São Sebastião do Caí. O lugar de embarque e desembarque, no rio Caí, foi conhecido em meados do século XIX também como porto Thedora. (Historias do Vale do Caí. Blospot, postagem n. 529, acesso em 05 de maio de 2013)