segunda-feira, 1 de julho de 2013

AS ESTRADAS COLONIAIS


O porto do Guimarães ficou sendo o ponto inicial da Estrada Rio Branco. Em 1888, foi construído um cais de pedra, dado o grande movimento de passageiros, imigrantes italianos, e mercadorias para abastecer as colônias da Serra, bem como para exportar as mercadorias que os colonos produziam e precisavam vender nos centros consumidores de Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Montenegro.
O relatório de Viação do Estado do Rio Grande do Sul, de 1912, apresenta um retrospecto das estradas construídas no Estado, de 1846 a 1889, iniciado ainda no período em que foi Presidente da Provincia de São Pedro o Conde de Caxias (1845), ao fim da Revolução Farroupilha. Na página 11 deste relatório consta que foi projetada a estrada entre a linha Christina de Nova Petrópolis e Feliz em 1867.
 Ainda em 1868, foi iniciada a “estrada da linha Pirajá na colônia Nova Petrópolis e a que do Porto Guimarães se dirige à mesma colônia, passando por São José do Hortêncio”.
Durante a colonização alemã, a estrada partindo do porto Guimarães beirando o rio Cahy foi se estendendo, em 1954, até o passo da Esperança, na Picada Feliz; em 1867 até Kronenthal, hoje Vale Real, chegando a Nova Palmyra e Linha Christina.
Era desafio da Provincia ultrapassar a fronteira do Rio das Antas, primeiramente pela Estrada do Maratá, com a intenção de chegar aos campos de Vacaria, iniciada em 1868. A estrada iniciava no porto de Maratá e se dirigia para as Colônias Conde D´Eu e DonaIsabel, onde foimais tarde o traçado da estrada Buarque de Macedo. (MELLO, 1872, p. 39).
No relatório do Conselheiro Presidente da Assembléia Legislativa da Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul, Jeronimo Martiniano Figueira de Mello, em 1872, refere-se a “Estrada do Maratá”, que foi arrematada primitivamente por Ignácio José Ferreira, que devolveu ao governo e sua construção corria por conta do Governo Geral. Em 1871, foi arrematada por Rodolfo Freitas, pela quantia de 23:000$000 reis, na extensão de oito léguas. O objetivo da construção da Estrada do Maratá era atingir os Campos da Vacaria. (MELLO, 1872).
No relatório anual de 1873 à Assembléia da Provincia, p. 13, o Presidente da Provincia João Pedro Carvalho de Moraes, em 01 de março de 1873, refere-se a “Estrada do Maratá” como “ achando-se quase inteiramente obstruida, desde a colônia do Maratá até o Rio das Antas e não deve ficar desaproveitando o serviço contractado com Rodolfo Freitag para a abertura da mesma desde o dito rio até os campos da Vaccaria, mandei contractar com João Jacintho Ferreira a desobstrução e o destocamento daquela parte pela quantia de 700$000 por cada légua.
Em 1875 deu-se a emancipação da Villa de São Sebastião do Caí de São Leopoldo, uma vez que desempenharia papel estratégico na colonização italiana que começava, por ter um porto de desembarque que permitia o acesso a Porto Alegre e Montenegro. Para as colônias Conde D´Eu e Vila Isabel (Garibaldi e Bento Gonçalves), o acesso se dava pelo portos de Maratá e Montenegro. A imigração para estas colônias começou em 1872. 
A Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul tinha poucas estradas em 1876. Várias são as justificativas, entre elas a do Engenheiro José Ignacio Coimbra, que em 1876 (COIMBRA, Noticia, 1877) produziu um mapa geográfico do Rio Grande do Sul,a pedido do Império, auxiliado pelo Tenente Coronel Conrado Jacob de Niemeyer e pelo engenheiro geógrafo Galdino Alves Monteiro. O mapa é acompanhado de uma brochura explicativa, encontrados no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, denominado “Noticia” sobre São Pedro do Rio Grande do Sul, impresso na Imprimerie Imperiale de S. A. Sisson, em 1877. Nesta brochura, o Engenheiro Coimbra(1877) descreve os acidentes geográficos como rios, estradas, povoações e principais elementos da geografia da Provincia.


Mapa do Eng. José Ignacio Coimbra, 1876. Fonte: Arquivo Nacional. 

Coimbra salienta particularmente a fertilidade das terras e a semelhança do clima, parecido com a Europa, produzindo cereais e frutos daquela parte do mundo. Referia-se à cultura européia que os imigrantes alemães introduziram no Rio Grande do Sul e fazendo propaganda para a imigração italiana, que recém começara. Coimbra antevê a prosperidade da região afirmando que “com tão bons elementos para a indústria e a lavoura, não devem causar estranheza o desenvolvimento e a prosperidade que tem tido e continuarão a ter as suas colônias e nem também a afluência da imigração para aquele ponto do Brasil” (COIMBRA, Noticia, 1877, p. 4)
Era visível o progresso das colônias, quer estabelecidas pelo Governo Geral ou Provincial, quer estabelecidas e sustentadas por particulares, “que progridem anno a anno e delas veremos indubitavelmente surgirem importantes villas e populosas cidades. Não é o patriotismo que nos cega, não há exageração em nossas palavras.  As colônias Conde D´Eu e Princeza Izabel, que estão situadas sobre o Rio das Antas, uma das vertentes superiores do rio Taquary, margeião a estrada que de São João de Montenegro segue para os Campos de Vaccaria. Possue cada uma delas 16 leguas quadradas”[1] (Idem, p. 5).

Outro fator determinante de prosperidade apontado por Coimbra (1877) foi o clima existente na Serra, que proporcionava “saúde para os colonos”. Afirma: “as frondosas florestas, as excelentes águas, o ar puro e o clima frio daquela alta e montanhosa região, elementos essenciais à vida, desenvolvem energia, vigor e atividade; enfim são tais as condiçõesde salubridade daquelas paragens que diversos colonos ali chegados gravemente enfermos tem recuperado em pouco tempo a saúde perdida. Não é surpreendente o aumento da população daquelas colônias  no curto espaço de tempo indicado” ( Ibidem p.5).
Ao analisar a situação das estradas da Provincia, Coimbra (1877) declara que a Provincia não possui boas estradas, justificando que grande parte da superfície é formada por coxilhas, com colinas alongadas, com pouca altura, doce declive e grandes chapadas, atravessadas por “pesados carros e carretas, não encontrando em seu trajeto outros obstáculos além de rios a vadear e alguns pântanos a vencer nos intercalados vales, conhecidos pelo nome de canhadas”( ibidem, p. 5). Coimbraafirma que “aquela Provinciaé dotada de inúmeros rios e arroios navegáveis, reconheceremos que não é muito sensível a falta de estradas. Todavia, na zona montanhosa, ou da Serra Geral e suas ramificações, onde as estradas devidamente construídas são necessárias, existem já muitos caminhos coloniais e se trata de preparar outros, que liguem as colônias entre si e com as povoações e os portos”(Ibidem, p.5).
As estradas consignadas no Mapa Geográfico do Eng. José Ignacio Coimbra, em 1876, na região objeto deste estudo, partem de Porto Alegre a São Leopoldo, de São Leopoldo a Novo Hamburgo e daí para Sant`Anna do Rio dos Sinos(atual Capela de Santana) onde segue para a colônia Mariante e a povoação de Taquary, de um lado, e de outro para a colônia de Nova Petrópolis, cruzando o arroio Cadeia e passando pela Linha Hortêncio.
De Santo Antonio da Patrulha, seguiam dois caminhos para São Francisco de Paula, um seguindo o velho caminho dos tropeiros e outro seguindo pela colônia do Mundo Novo (atual município de Taquara). De São Francisco de Paula, um único caminho seguia para o Rio Tainhas, onde havia uma bifurcação em direção a Vacaria, cruzando em dois lugares denominados de Passo das Camizas e pelo Passo das Antas. Outro caminho saía de Santa Barbara em direção a Lagoa Vermelha e a Colonia Militar de Caseros, com ligação também com Vacaria. (COIMBRA, Mappa Geographico da Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul, 1876).
As estradas coloniais deste período tinham 15 metros de largura de derrubada e nunca menos de 8 metros de área livre. As obras de arte necessárias para a trafegabilidade, como pontes, boeiros, ocupavam profissionais como carpinteiros e falquejadores. (Oficio n. 278 de 16 de novembro de 1878, da Presidência da Provincia. Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, colônia Conde d´Eu).




[1]As medidas utilizadas na época eram léguas, tanto para medida de área, quanto para medida de distâncias.

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